Eu não sabia, mas o dia do meu aniversário seria marcado
pela perda mais doída da minha vida!!!!!!
Saímos no domingo, 4 de março, para o aniversário do neto
de uma amiga da família. Ela estava bem. Havia preparado o almoço de todo dia e
estava costurando na velha Singer.
Já estávamos de volta quando o marido da minha sobrinha
liga dizendo que ela apresentava um mal estar.
Voltamos mais rápido para casa, chamamos a Vitalmed
(serviço médico de urgência domiciliar) e ficamos em aguardo. O médico chegou,
mediu pressão, oxigenação, e outras coisas mais que agora não lembro.
Medicou, deu AAS, sublingual para baixar pressão
arterial. Por precaução, solicitou uma unidade avançada para fazer um
eletrocardiograma. Exame feito e as palavras do médico foram que os sintomas
não indicavam nada que indicasse algo mais grave.Eletro normal, pressão
estabilizada.Devia ser uma indisposição estomacal.
Minhas irmãs foram embora aliviadas. Ficamos em casa, eu,
ela e Ana Letícia. Deitamos nesta noite na mesma cama, as três juntas. Já era 5
de março.
Ela deitou e conseguiu pegar no sono, já umas 4 horas da
manhã. Eu estava muito cansada, mantendo-me acordada até esta hora, quando vi
que ela havia “pegado” no sono, acabei por cochilar.
Ainda levantei as 6:30 e ela estava respirando. Perguntei
baixinho se estava tudo bem, se a dor havia passado, e ela falou baixinho
também, que havia diminuído o mal estar.
Levantei, liguei pra minha chefe de trabalho avisando que
não daria pra comparecer naquele dia, falei com ainda umas 3 pessoas ao
telefone e voltei a deitar.
Eu, ela e Ana Letícia na mesma cama. Às nove horas
desperto com o meu celular tocando. Era minha irmã que ligava pra saber como
ela estava. Acordei sobressaltada com o barulho, digo a minha irmã que ela
ainda dorme e que está tudo bem.
Mas algo me chamava a atenção, e eu não soube explicar
nem visualizar o que era. Chego perto. Meu coração acelera... Chamo, chamo, e
nada. Tremi da cabeça aos pés. Quase desmaio.
Mesmo filha que
era naquele momento, penso na minha maternidade e na minha filha deitada ao
lado. Não poderia assustá-la com gritos e desespero...
Saio de mansinho para chamar alguém , mas ela ouviu meu
soluço e assim mesmo acorda assustada me perguntando pela vó e porque ela não
queria acordar...
Em alguns poucos minutos, entra em casa uma vizinha junto
com o filho. Eu peço a ela pelo amor de Deus que me diga o que aconteceu... Ela
toca no pulso e apenas olha pra mim e balança a cabeça em sinal negativo....
Fiquei cega... suei frio, as pontas dos meus dedos
ficaram roxas e dormentes...abracei Ana Letícia com toda força e lágrimas
corriam na minha face. Eu não acreditava no que estava vendo...
Logo a casa estava cheia de gente. Moradora do mesmo
bairro e rua a 37 anos, logo a notícia se espalhou e todos os vizinhos e amigos
queridos vieram nos prestar a solidariedade.
Uma vizinha amiga, muito querida mesmo, me pediu
permissão para levar Ana Letícia pra casa dela, e eu autorizei...
Meus irmãos chegaram e começou-se a resolver os trâmites
legais para o dia seguinte........
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Minha mãe, Dona Dora, foi embora deste plano no dia que
eu nasci... Não sei ainda o que isso
quer dizer....
Só sei dizer que a dor da saudade é imensa. Choro e
revivo tudo ao relatar tudo isso. Mas o Retrato é a minha casinha, e nela eu
sei que posso desabafar e depositar minhas memórias.
Além disso, meu blog é um registro das coisas boas da
nossa vida, e com certeza minha mãe foi/é a melhor mãe que alguém poderia ter.
Sempre abdicou de tudo para nos oferecer o básico que um ser humano pode ter.
Nunca nos deixou sem alimento, sem roupa e sempre se preocupou com a nossa
educação escolar, embora ela própria não tenha tido a oportunidade de ir a
escola. Sempre foi uma avó muito açucarada, amou muitos seus seis netos e o
bisneto.
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Aniversário do ano passado. Em 17 de abril ela estaria comemorando 77 anos |
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Natal de 2011 |
Nos educou e ensinou valores. Se eu conseguir ser um
puinguinho do que ela foi, estarei feliz.
Ana Letícia segue bem... Conversamos sobre o assunto de
forma clara: um dia todos nós teremos que fazer esta despedida... e o dia da
Vovoca chegou....
Comprei o livro Menina Nina, do Ziraldo, que explica de
forma bem linda todo o processo que envolve a explicação da morte para os
pequenos.
Vez ou outra ela lembra dos eventos que viveu com a avó...
beija as fotos e diz que está com saudade, mas não tenho percebido sinais de
problemas por causa disso.
De verdade, nós adultos aprendemos muito com as crianças
e Ana Letícia tem me ajudado a prosseguir, apesar da dor ser muito grande.